quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

corpo é vazio
e quando o cercamos
do corpo de alguém
que amamos

é tanta energia
que á alma extrapola

além da presença
que nos entorpece,
domina os sentidos

e faz esquecer

que ao certo um dia
os corpos partidos
a terra devora


que quando se vai
me cala em mordaças

se formam nas linhas
milhares de notas
esfaceladas

as frases exaustas
pulsam seladas
sobre os papéis

e eu já sem demora
ato em cordões
as emoções
que meu corpo aflora.












domingo, 11 de novembro de 2012

não posso conter
teus olhos vorazes

te fito sem pressa
as cores, bordas,
a mente ás avessas

mergulho nas horas
da noite ociosa
e o tempo demora,
mas vago sem pressa

meu dia é desfeifeito
em cinza e pecado
me prendo,  menina
ao teu calcanhar
eu nado em teu seio
te cruzo no olhar

a tua canção contamina
versos e linhas
meus manuscritos

tecendo respostas
á tal insolência
que com paciência
desarma e se afina.




domingo, 4 de novembro de 2012


nada em meu mundo
sequer me pertence
a alma transcende
e vaga distante
corpo afora

e junta-se a ti,
teu peito devora
teu corpo aflora
metade de mim

assim poderia
tentar o universo
todo o acaso
o caso e o tempo
nos desatar
mas alma e corpo
são partes de um mundo
e querem no fundo
se reencontrar

o mistério das horas
que aqui se encontram
para desaguar

em todas as brechas
nas quinas e frestas
de cada pedaço
sem início e fim
que ocupa em mim
imenso espaço

meu corpo derrete
e te alaga inerte
em horas tardias,

por noites e dias
fui presa ao chão
e sem tal razão, por ironia
liberto-me, em vão.

mais tarde, te encontro
se é meio dia
e em meio ao dia
escoo em teu colo

minha alma é de vidro.
meu corpo são cacos.
e assim me refaço
com linhas e estilhaços
teço-me à mão
pedaço a pedaço.






domingo, 28 de outubro de 2012

enceno uma trama
sem trilha nem cor
mas só minha noite
e não mais romance

algumas nuances
aludem ás formas
do teu desamor

mais uma rodada,
e eu rio sozinha

o ar da madrugada
arrepia tua pele
que ainda é minha.

tropeço no asfalto
embriagada
e nas mãos geladas
te guardo afago

me trava a garganta
alguma palavra
mas vou-me embora
e a deixo no ar
morrendo afogada.






domingo, 21 de outubro de 2012


te criei em meu jardim
brotaste em meu tronco
e teus galhos
se alastram em minhas veias
e absorvem meu sangue

tuas folhas
atravessam meus poros
calam minha voz
tuas flores se perdem em meus nós.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

eu toco teu corpo
que de mim se separa
por cem mil muralhas
te ouço daqui
te tenho daqui
e sequer reparas.

de que adianta
cobrir-se de adornos
se mora em teu peito
tamanho silencio?

e pra que vestir-se
se o corpo é manto
de injúria e delírio
deitado em nudez?

em sonhos secretos
teria a audácia
de tê-lo outra vez

mas ando calada,
e por minha vez
não visto nada.







domingo, 16 de setembro de 2012

eu não quero
nem mereço
resposta

eu quero arder
até me desfazer em calor

eu não quero palavra
quero derreter em dor

eu quero sangrar
até desfazer

até desaparecer,
dispersar
e morrer.

vago atordoada
em meio á multidão
te encaro selada
e meu coração
se devora,
te processa
e demora.

eu foco no nada
em sonhos partidos
e fico parada

dentre os sentidos
algum resiste.

mas sou emoção
que tão insolente,
tão secretamente,
jamais desiste.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

de dia sou terra firme
e a cada passo
alago meu corpo
em melancolia

em teu chão assim
há, de mim, hora a hora
vazio;

e á noite sou mar
sem navio.


te parti, me escondi
usei, joguei, ousei te amar

são as feras em mim
saltando ás artérias
expurgando ardor
sem cor nem mistério.

não temo perder
nem ver acabar
e nem venha a mim
a anunciar, início ou fim

nem bem dizer
o que me atormenta
me ponho ao teu lado
e em nosso afago
teu sangue me esquenta.

mas em tuas mãos
não há razão
para se exaltar
guardo em teu seio
todo o receio
de me entregar.


perdi as dimensões
do universo que abrigo
em meu estômago

são náuseas que gritam
dores que hesitam
mágoas que habitam

e tanta acidez
povoa esta casa
que arde em brasa
do chão ao céu

e o ar que circula
pulmão adentro
é bruma difusa
em pluma e cimento
que esmaga o peito
sem sentimento.





domingo, 19 de agosto de 2012

o amor aqui
cai como uma mancha
que te cobre e cerca
minha palavra te arde
até sem soar.

não consigo me ater
ao gesto desesperado
de te procurar

só pra dizer
o que vem á cabeça
pra te incendiar
e te desfazer

eu quero você
e não sei negar
eu quero saber aonde
com quem está
quero ver seu fado
seu mal estar
e até talvez te salvar.




Eu não sou daqui, nem de outro lugar
Não soube te dar um lugar Seguro.

Eu não me seguro, eu caio
Eu faço barulho, eu me desfaço.
Mas não faço por mal, nem por brincadeira

Só dou o melhor e o pior de mim
Que seja, tens tudo
Pois sou mesmo assim

E aqui me retrato
Ou tínhamos nós algum trato?
Nem sei responder.
Quem mesmo sou eu, sabes dizer?

Te pude ter, e não te deixo ir
E é assim que estamos partidas;

Não segui tua dica, perdi teus sinais
Sentindo humano e agindo errado,
Jogando a vida ao acaso,
Como os animais.

Meus sinais vitais pulsam em ti
Meu sangue corre quente
Em teu desejo ardente
Que só por um dia podia ser
Nosso, a meu ver.

E se em pródigo atrito
O espaço implodir em gotas de ódio e dor
Teríamos um dia infinito, amor.

sábado, 9 de junho de 2012



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fui eu que nem soube
se foi este ou outro
o amor que engoli

se algo almeijo
é por teu desejo
me partindo o peito,
a me dilacerar.

este ou outro canto
teu braço, meu abraço
meu peito, teu pranto
me traz de volta
o desencanto
de aqui planejar
guardar-te cativa
em nosso lar








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são as portas do quarto,
as rodas no pé
as asas no carro
que segue, ou nem tanto
guardar ao meu lado
da pele o cheiro, é teu canto


armadilhas do celeiro
e a falta dela
e o excesso dela
e o descado dela
e o carinho dela

não foi a saia da donzela
nem a lama dos sapatos dela
sem teu mal, ou sequer bem me quer

te querer, ter e perder
é pesado, dói sustentar
teu querer, a sequela
do passado a testar
se a moça bela já soube te amar.

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vendi minha alma,
sem qualquer receio
só pra te agradar
e roubei a tua
sem pôr no lugar

e ainda nem sei
onde foram parar
nossos corpos vazios

quem sabe circulem
em campos sombrios?

universos, versos,
distantes vizinhos

não tenho mais pernas
nem posso correr
para me esconder
ou te procurar.

eu fico em meu canto
e o tempo passando
e tudo mudando
fora do lugar

mas só deixo estar -
eu não vou embora
só fico de fora
até tudo acabar





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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

tropecei embriagada
nas visceras e arterias laceradas
e quase afogava
em meu proprio mar de solidão

eu alimento aqui todas as feras
e não me aflige tanto assim nenhum perdão

eu me enforco em um nó de entranhas
respiro o ar exaurido em teu pulmão

não tenho medo dos males da cidade
não tenho pressa em sair da prisão
das paredes mortas do meu quarto
gotas de alucinação

fantasias que deleito
toda vez que me deito
e não vejo o mundo girar
ardendo em falta
e excesso de tentação

domingo, 12 de fevereiro de 2012

entalou-me a voz
que aqui carrrego:

fiquei sem teto, fiquei sem chão.
não sei viver tranquilamente
nunca tenho razão.

procurava na noite o brilho
nas luzes da cidade, no céu
das meninas, quem sabe...
por onde andarão?

daqui da corda bamba
te espreito secretamente:

será que teu corpo consente
fazer-me da alma contente?