quarta-feira, 21 de abril de 2010

cadeia

estive incessante
a te procurar
arrastei correntes
me desconstruí
certas vezes
quis morrer


será que devo fugir?
ou em minhas palavras
tentar me redimir?
talvez renascer
mas agora desisto:
desejo apenas dormir.


não trago comigo
nenhuma surpresa
e nada cultivo
em minha cela
podemos dançar
alguma mentira
ou calar
pela imensidão


te daria meu sabor
meu tempo
minha certeza
mas só me retiro
sem hesitar
e não me despeço
se estou a sangrar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

fuga

tentei fugir
corrí em espirais
ví a vida transcender
em delirios surreais

devo me dissolver
em fumaça e vapor
ou apodrecer
me decompor
e sumir.

desamor

se a voz destila
soberda e ardor
e desenganada
me deito no chão
e cravo nas mãos
a carne nua.


vozes ofegantes
palavras vazias
mantenho-me só
em tua compania


mas sei que guardo
fardo pesado
se estás ao lado
e de nada adianta
ter em minha mão
tua pele macia
e na garganta ensaio
tua despedida.


procuro nas festas
pequenos sorrisos
olhares perdidos
trocados, cedidos
e beijos que fazem
de mim a atrevida
mulher combalida
que em desamor,
se dá por vencida.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

cidade

a triste cidade insalubre
e sua gama de cores
veste em dourado
as putas curtidas
e damas distintas
com seus senhores:
alguns genuínos,
alguns impostores.

-queria estar cansada
e não poder fingir.-

mas me vejo exaltada
e meu sangue cinza
escorre na vala.
em minhas vestes
trago a poeira
das ruas que não habito
mas guardam de mim
silêncio e grito.

meus pés percorreram
toda e qualquer via
tudo procurei,
achei e perdí.
e em doce delírio
chorei ao partir
mas com ou sem temor
vendi minha alma
e já não estou aqui

julgo incoerente
do luxo ascendente
ao berço de lixo
teus braços e afluentes
acolhem teu prodígio
em glória decadente.