terça-feira, 11 de novembro de 2014

você me desconstruiu
virou-me ao avesso
e por ter-lhe apreço
sequer reagi.

criou em mim
tua necessidade
a sobrepôs a mim
e à minha verdade
mas já pude reaver
por força ou  vaidade
todo o eu que me habita,
o que há de próprio em mim
e se outrora tentaste
me virar ao avesso,

não pago mais
teu preço.

domingo, 19 de maio de 2013


desvio das telas
e suas pequenas polegadas
eu vou além
dos topos dos prédios,
das dunas, das casas

somos um corpo só
um pedaço de tanto
e só o corpo, no entanto
é nossa própria extensão
de um longo verso
e o mundo todo inverso

eu ouço as pegadas
nas praças e calçadas
ouço a madrugada,
suas memórias sórdidas
o que as ruas paradas
tentam dizer

eu tenho tanto a fazer
e não tenho tempo
tantas lentes, espelhos
breves ensejos
e tão logo receio

mas findo num corpo só
e tão só de longe te vejo.


sexta-feira, 26 de abril de 2013


trafego em caminhos
por tortuosos versos
cidades, desertos
restos e estilhaços
vestígios e laços
o que já se foi

eu construí
com a alma e afinco
meu próprio universo
o que foi seu templo
guardei em meu tempo
seu melhor lugar

fiz e refiz
pirâmides, labirintos
e já nem sei mais
o caminho de casa
já nem sei quem sou

me perdi no escuro
numa casa inabitada
e de parte em parte
num breve descaso
me retiro e desfaço
teu corpo em cinzas
e cores sucintas
num longo laço.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

caminho entre os teus
caminhos e frestas
mas não sou de lá
sou deserto e mar,
vazio e festa
eu sou meu lugar


meu corpo em fogo,
um mar de demônios,
mulheres de gelo,
e outros delírios

seguimos certo,
sem mais desvios
de olhos fechados,
de peito vazio.

sábado, 19 de janeiro de 2013

você
teu riso
tua agonia
teu cheiro
teu ar
teu tempo meio lento
tua presença e falta
teu eu meu e nosso

nós
nossa alegria
nossa nostalgia
nossa angústia
nosso tempo
nossa música
nosso sabor
nosso amor e desamor
nossa plena sintonia


eu
o acre
a sombra
a duvida
a memoria
a falta
minha dor, tortura
meu azar
opção, mania, insistência
meu nós

o breve silencio
da longa resposta
e digo em metades
com belos enganos
as duras verdades

e por trás do desdém
me escondo da angustia
daquela que quer dar-te o que não tem

me corta a carne
doce impressão
e despida das máscaras
me aguarda a solidão

e não mais te iludas
com as coisas belas
e teu próximo passado
afogue
nos tristes copos
de tuas donzelas

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

corpo é vazio
e quando o cercamos
do corpo de alguém
que amamos

é tanta energia
que á alma extrapola

além da presença
que nos entorpece,
domina os sentidos

e faz esquecer

que ao certo um dia
os corpos partidos
a terra devora


que quando se vai
me cala em mordaças

se formam nas linhas
milhares de notas
esfaceladas

as frases exaustas
pulsam seladas
sobre os papéis

e eu já sem demora
ato em cordões
as emoções
que meu corpo aflora.